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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

INBOX: Maputo a Noite

Ei pessoal, Sorry estive um bom bocado out a resolver os problemas da minha vida real e ca estou eu sem ter resolvido porra nenhuma mas a postar de novo. Man.... Vício é vício. Mas ok deixemos essas tretas de lado, volto com um post que recebi por E-mail no ano passado e rencontrei a poucos dias no meio da minha inbox com mais de 7000 e-mails. Ora... Ca Vai:

Nos últimos tempos, em Maputo, um grupo de pessoas “sem rosto” organiza festas em espaços exclusivos onde não entra quem quer, mas só quem pode. E para poder não basta ter dinheiro, é preciso nome e contactos, mas uma “sms” pode abrir a “caixa de pandora”.



São 22 horas de sábado à noite, estamos debaixo de um prédio algures na baixa, cidade de Maputo. Soubemos que aqui, de tempos em tempos, se organizam festas privadas, noites de dança, sexo e drogas.

Do outro lado da rua jovens e adolescentes vão chegando. Juntámo-nos ao grupo e subimos até um sexto andar esquerdo. No átrio defronte a porta está um monte de músculos. A carapinha farta e os maneirismos de um “guindza” não deixam perceber que o porteiro é apenas um adolescente, como grande parte dos convivas. O rosto transborda um sorriso malandro, que serve em dose dupla: impor medo e respeito.

Mostrámos a mensagem que nos garantia o acesso desde que chegássemos antes das 22 horas. Entrámos. O chão da sala estava todo riscado. No bar descobrimos que, enquanto o mundo dorme, no silêncio dos néons, um outro mundo se revela: o mundo das possibilidades infinitas, dos amantes ocasionais e dos encontros proibidos.

Sexo. Álcool. Droga. Música alta.Montes de maquilhagem e de vedetismo. Rostos adolescentes. Ausência de diálogo. Roupas extremamente curtas.
Assim escrito parece que ficaram ali alinhados alguns dos ingredientes essenciais para criar uma “dischouse” como esta. Escusado será dizer que, na escala etária adolescente, esse tipo de festas passou logo a estatuto de culto.

É nestas “dischouses” que a droga se cruza com a miudagem gira, rica e demasiado concentrada nas suas obsessões.
 
As personagens
Num canto escuro da sala, no meio de outros adolescentes, sentada num banco, Ermelinda *, 14 anos, vestida à rameira, mas com um rosto a transbordar inocência, é o centro das atenções. Aliás, no dicionário de Linda inocência é um termo ultrapassado desde os 12 anos, altura em que começou a frequentar ambientes do género.

Não resistindo à curiosidade, atrevemo-nos a ingagála: “Os teus pais deixam-te sair assim vestida?” . “Não, visto-me em casa de amigas”, responde com prontidão. No que diz respeito a sexo, Linda já têm “quilómetros de rodagem”.

Ao contrário do que aparenta, esta “maratonista do sexo” não provém duma família humilde como deixa transparecer. As razões que a levaram àquele submundo são outras. Refira- se que Ermelinda nunca passou fome. Em casa o seu maior drama foi sempre a rotina: “Fartei-me de brincar com bonecas, de trocar canais na televisão por cabo, da escola privada”, onde os pais pagam uma mensalidade que é duas vezes o salário mínimo. E, hoje, para fugir da rotina, começou a frequentar ambientes nada recomendáveis. Num dia indistinto, do ano em que completara 12 anos, Ermelinda recebeu uma mensagem que mudou o rumo da sua vida. A mensagem era um convite para participar numa festa, mas só podia entrar se mostrasse a respectiva sms na porta. Foi com umas amigas da escola e relata na primeira pessoa o que aprendeu: “Aprendi a fumar e cheguei a fazer sexo com quatro homens”, confessa.- Qual foi o prazer? “Nenhum, mas também não há nenhuma quando se faz com apenas um homem”, di-lo sem rodeios. “A vida não é um mar de rosas e o sexo é um dos meios para que as mulheres sejam convidadas”, garante Ermelinda.

Diz o ditado que à noite todos gatos são pardos, mas, entre silhuetas distorcidas, amplificam-se sons e cheiros que passam despercebidos quando o sol ainda não se pôs. Nesse cenário devasso, Ermelinda é apenas uma personagem-tipo.

Personagem-tipo também é Rogério, 16 anos, calças estilo 50 cent, brincos e fala fácil, viciado em drogas pesadas há dois meses, porque as chamadas drogas “leves” consome desde os 14 anos. Hoje, frequenta esse tipo de festas porque pode drogarse à vontade.

“Aqui os kotas não atrapalham, pensam que estou em casa de um brow ”, refere. Os 5000 Meticais de mesada são gastos na íntegra em cocaína que é vendida em tampinhas de refrigerante pela “módica” quantia de 1000 Meticais, um pouco mais do que um saco de arroz de 50 quilos.

Aliás, como 1000 Meticais não é dinheiro de se apanhar facilmente, a solução para os consumidores é funcionarem em micro-sociedades, pois assim podem adquirir com maior facilidade as doses de cocaína.
Eram sete horas quando saíram os últimos convidados. Na porta, descobrimos que o que mantém a eficácia dessas festas é a surpresa relativamente ao local do próximo evento. O porteiro fica com uma lista onde passa os números e os nomes dos presentes.
E é através desses contactos que se anuncia, a dois dias da festa, o local e hora. Saímos com a sensação de que, em norma, 80 porcento dos presentes bebem e drogam-se se a valer, mas há também o sexo desprotegido e em grupo, onde Rogério e Ermelinda participam activamente.

Chaminé, poeta moçambicano, disse um dia: “Haja mais motéis e discotecas, em lugares de escolas e bibliotecas”. Quando ironizou, não pensava, obviamente, que isso viesse a suceder, mas bastou entrarmos nesse mundo restrito onde a ausência de regras é a única regra para lhe associarmos o pensamento.
Por isso, hoje, aos fins-de-semana, adolescentes à entrada dos 15 anos permanecerem no conforto de suas casas depois das 18 horas não passa de um objecto de culto dos devotos das causas perdidas...

NO BAR
No bar onde o álcool sai a rodos, uma simples cerveja não é para qualquer bolso. Custa 100 Meticais quando é produto nacional, 150 a importada. Depois tem as secas e os vinhos que custam os olhos da cara: um cálice custa 200 Meticais e um copo de vinho branco 150. É também nesse bar improvisado que se compra todo o tipo de drogas. Um olhar atento deixa perceber que o que sai mais é um pó branco em tampas de refrigerante. As tampinhas são organizadas num balcão, cerca de 100, mas desaparecem num ápice. Na outra ponta, vende-se soruma, e ecstasyuma droga psicadélica que é colocada nas bebidas para ajudar os corpos a passarem a noite.

OS ORGANIZADORES

Um grupo de adolescentes é a ponta visível na organização da festa, mas pelas quantidades de droga e álcool que circulam, podese depreender que há gente graúda por trás, que não dá o rosto mas que, com o seu braço invisível, controla tudo."


Escrito por Rui Lamarques Sexta, 13 Fevereiro 2009

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