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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Malangatana Morre aos 74


Começamos o ano com noticias tristes. Segundo informações que correm nos orgãos de Imprensa, o pintor moçambicano Malangatana morreu aos 74 anos às 03:30 no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, vítima de doença prolongada.

Clique no Link para ver algumas reacções de conhecidos e amigos. 

Pancho Guedes, arquitecto que conheceu Malangatana em Lourenço Marques (actual Maputo), no final dos anos 50: “A morte dele é uma notícia terrível. Eu sabia que ele estava doente, mas ele, que era um grande optimista, dizia sempre que estava tudo bem, que era um problema passageiro.” “Malangatana fazia uma pintura muito própria e muito viva, sem nenhuma influência exterior, e com uma grande atenção pela África. Foi isso que o tornou um artista que depressa conquistou um grande reconhecimento internacional. Nós – eu e os pintores Augusto Cabral e Zé Júlio –, que então vivíamos em Lourenço Marques e acompanhámos o início da sua carreira – ele era empregado de mesa no Grémio Civil, o clube da elite branca –, gostávamos realmente da pintura que ele fazia, e comprávamos as suas obras. Ele pintava coisas muito envolvidas com a vida tradicional da sua terra, e tinha uma imaginação excepcional; misturava as raízes africanas com a acção dos missionários, tanto católicos como protestantes. Tinha uma capacidade nata para pintar e para tudo o que dizia respeito à arte.”  


José Rodrigues, escultor nascido em Luanda: “Era um homem muito alegre, de uma alegria muito africana – às vezes, no meio de uma conferência, começava a cantar... Era um africano, mas ao mesmo tempo um artista universal. A sua obra está muito ligada ao fetiche, aos ritmos e à tradição da sua terra, mas que ela tentava modernizar. Nos seus quadros há sempre muitos olhos, sempre muito abertos para o mundo.”
Cavaco Silva, Presidente da República: "Em meu nome pessoal e no da minha mulher, quero apresentar sentidas condolências à família do pintor Malangatana, um dos mais expressivos símbolos da união entre a arte moçambicana e portuguesa. Pelo seu percurso enquanto pintor e artista de exceção, mas também pelo seu papel cívico na luta pela democracia e pela melhoria das condições de vida do povo moçambicano, Malangatana é justo merecedor da nossa mais profunda estima e consideração”. “Neste momento de luto, é com sentido pesar que presto a minha homenagem a Malangatana, uma figura marcante do encontro de culturas secular entre Portugal e África, que ficará na memória e no coração de todos os que acompanharam o percurso deste amigo de Portugal e dos Portugueses”. 

Mia Couto, escritor: O país perdeu “uma espécie de embaixador permanente da cultura”.
 
  
Ângela Ferreira, artista plástica: "Era uma força da natureza." "Conseguiu ser uma figura respeitável como pintor e africano, mesmo no tempo do colonialismo, o que era difícil".
 
 
Joaquim Chissano, ex-Presidente moçambicano: “A cultura está desfalcada” de um “animador de cultura em todos os aspectos”.
 

Mari Arkatiri, secretário-geral da FRETILIN: “Uma grande perda para o mundo da arte”.
 

 Domingos Simões Pereira, secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): "Uma grande perda para o mundo".


 


Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura: "O carismático pintor moçambicano deixa um legado de intervenção e criação cultural de grande expressão no mundo lusófono e de reconhecimento internacional".


 José António Fernandes Dias, director da plataforma cultural África.cont: “Malangatana foi, sem dúvida, o primeiro artista plástico africano negro moderno no espaço da lusofonia. Na primeira parte da sua obra, ele pintava o sofrimento, a dor, a escravatura, o trabalho forçado. A seguir à independência, envolveu-se no movimento de criação de uma identidade nacional moçambicana. A partir de dada altura, tornou-se um grande pai, muito generoso, para os artistas moçambicanos mais jovens.”


Rui Mário Gonçalves, historiador e crítico de arte: “A pintura de Malangatana é muito influenciada pelas tradições da sua terra e etnia. Ele conjugava as diversas influências e tradições: pintava mulheres africanas com cabelo comprido, como se fossem europeias, e misturava diferentes crenças religiosas, do catolicismo ao protestantismo. Além de que era fascinado pela obra do Picasso. Tornou-se um artista cada vez melhor, com o passar do tempo.”Luísa Soares de Oliveira, crítica de arte: “Malangatana foi muito importante numa altura em que a arte portuguesa estava a abrir-se à internacionalização. Havia nele uma frescura de estilo que era uma novidade, e que se afastava do folclorismo, e isto era um conceito moderno. Nos anos 80, a sua obra foi sujeita a um certo esquecimento, e é pena que as suas obras não estejam hoje normalmente expostas nos principais museus portugueses, como o Chiado ou a Gulbenkian. Estamos na hora certa para voltar a olhar para Malangatana com mais atenção.”

João Pinharanda, comissário e crítico de arte: “Malangatana é muito importante porque faz o cruzamento da cultura indígena com a cultura do colonizador. E consegue criar uma identidade cultural moçambicana. É o mesmo que os escritores Craveirinha ou Mia Couto fazem com a língua portuguesa na sua obra ou que Pancho Guedes faz com a arquitectura ocidental ao chegar a África.”  


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